O táxi como negócio - Taxista Empreendedor

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Taxista de 96 anos mostra vitalidade e dedica a vida ao transporte de passageiros

Seu Fausto, como é carinhosamente chamado na cidade, se gaba de que vai completar 97 anos bem vividos domingo. Como chofer, é considerado defensor da paz no trânsito
Araguari – Todas as manhãs, por volta das 7h, faça sol ou faça chuva, o taxista Fausto Lieggio abre o portão da garagem, dá uma rápida conferida em seu Santana cinza, fabricado em 2003, e segue para mais um dia de serviço pelas ruas e avenidas de Araguari, uma das cidades-polo do Triângulo Mineiro, com população em torno de 110 mil habitantes. O dia a dia desse homem de fala mansa talvez não teria nada de mais se ele não fosse um trabalhador – e muito competente, como garantem os vizinhos – no auge dos seus 96 anos. “Coloca aí na reportagem que vou comemorar 97 no próximo domingo”, disse, orgulhoso.

Nascido em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Fausto faz questão de ressaltar que é um seguidor da paz no trânsito. Sempre atento à sinalização, ele conta que a receita para um trânsito seguro vai desde o respeito ao pedestre à paciência com as atuais retenções e congestionamentos. Quem tiver tempo para um dedo de boa prosa com o chofer, certamente, não vai se arrepender. Saberá, por exemplo, que o motorista carrega consigo uma antiga cópia de sua primeira carteira de habilitação, expedida pela Prefeitura de Araguary em maio de 1935.“Repare que o nome de minha cidade era grafado com a letra y e que, naquela época, o documento era fornecido pelo município”, recorda Fausto.

Seu documento revela outras curiosidades, como o preenchimento à mão dos dados do condutor. Mas o que chama mais atenção é o fato de a antiga carteira de habilitação estampar duas fotografias do condutor: “Não é engraçado ter uma foto frontal e outra do perfil? Veja ainda a data: 18/05/1935”. Era uma época diferente, com poucos carros por aquelas bandas do Triângulo Mineiro.

Na centenária Araguary, que até 1888 se chamava Vila Brejo Alegre, havia menos de 20 veículos, calcula o taxista. “Aprendi a dirigir num Ford Bigode. Já meu primeiro veículo foi um Ramona. Que saudades! Sabe, fui caminhoneiro antes de ser taxista. E dos bons. Levava grãos e cristais. Algumas viagens foram de Cristalina (GO) ao Rio de Janeiro. Durava, cada uma, cerca de 30 dias, pois as estradas eram de terra.” A maioria da malha rodoviária atual é pavimentada, mas não quer dizer que seja de boa qualidade.


Assaltado duas vezes

O mesmo ocorre em boa parte das vias municipais, nas quais a segurança carece de mais atenção do poder público, como atesta o chofer. “Fui assaltado duas vezes nos últimos anos”, recorda. Na mais recente, em agosto de 2011, ele foi vítima de um sequestro relâmpago. Saiu com os dois braços cortados e foi socorrido por um policial que estava de folga. Mas o que Fausto gosta mesmo é de contar casos alegres e curiosos.

Um deles remete à própria família: seus quatro filhos – Ivanir, de 68; Luís Carlos, de 65; Ivone, de 54; e Fausto Júnior, de 52 – seguiram a profissão do pai. “Meu neto, o Luís Antônio, também é taxista”, acrescentou o chofer, enquanto acenava para um vizinho e ouvia: “Está famoso, hein seu Fausto?”. As palavras do amigo levaram o taxista, que foi casado com dona Geralda por muito tempo, a abrir um longo sorriso. A saudade da companheira é grande, mas a vida, como o trânsito, precisa ir adiante.

Fausto leva e traz passageiros até por volta do meio-dia, quando retorna para casa atrás dos saborosos almoços. Pouco depois, abre novamente o portão da garagem, pois a labuta precisa continuar nas primeiras horas do período da tarde. Ele costuma “recolher” o Santana por volta das 15h, 15h30. Já em casa, tem como passatempo ver televisão ao lado da neta Lívia, uma turismóloga que adora ouvir os causos do avô, como os da época em que a linha férrea era importante para a economia do município.

A cidade já foi forte entreposto comercial. O imponente prédio da estação ferroviária é ocupado hoje pela prefeitura, que reformou o lugar e instalou lá sua sede e algumas secretárias e órgãos municipais. A turismóloga defende a revitalização de pelo menos parte da linha para a instalação de trens turísticos.

Lívia, aliás, é quem revela parte do segredo de uma longevidade sadia do chofer: “Meu avô come muitas, mas muitas frutas mesmo. O prato tem maçã, mamão…”. Outra parte do segredo é contada pelo próprio taxista: “Trabalho para me divertir, porque ficar em casa enferruja a pessoa”.

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