O vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa quer melhorar a qualidade do serviço de táxis no Aeroporto da Portela. A ideia de Fernando Nunes da Silva é restringir a possibilidade de efectuarem serviços no aeroporto aos taxistas que cumpram um conjunto de requisitos, nomeadamente de apresentação, conhecimento de línguas e da cidade, limpeza e antiguidade do veículo.
O vereador refere que este sistema é semelhante ao que existe em Barcelona e explica que a fiscalização seria feita por gestores de praça indicados pelos próprios taxistas.
O presidente da Federação Portuguesa do Táxi concorda com a necessidade de regular o exercício da actividade no Aeroporto da Portela e reconhece que as situações de incumprimento “não são esporádicas”. “Há um grupo de pessoas forte que domina aquilo e dá uma má imagem do sector. Não há dúvida que é preciso travar aquilo urgentemente”, diz Carlos Ramos.
Este dirigente concorda com a proposta da Câmara de Lisboa e defende a criação de um código de conduta e de um regulamento disciplinar para quem quiser trabalhar no aeroporto. Quem estiver disposto a cumprir as condições aí impostas deverá inscrever-se e se for seleccionado passará a constar de uma base de dados e sujeitar-se-á à fiscalização de um gestor de praça.
"O carro deve ser limpo, ter um determinado número de anos e ar condicionado. O motorista não deve ter mangas à cava, chinelos de dedo e calções que deixam as pernas à mostra", exemplifica o presidente da federação.
Carlos Ramos também defende que deve deixar de haver dinheiro a circular, passando todos os pagamentos de serviços com partida do aeroporto a ser feitos com vouchers comprados previamente. Hoje a Associação de Turismo de Lisboa já disponibiliza um produto deste tipo.
Lisboa à procura de soluções para o excesso de táxis
A Câmara de Lisboa está também a estudar soluções para resolver o excesso de táxis na cidade, entre as quais a obrigatoriedade de cada veículo parar um dia por semana ou de uma parte das viaturas circular apenas durante o dia e outra à noite. Os representantes do sector concordam com a necessidade de se atacar o problema e apresentam outras sugestões, como alguns taxistas deixarem temporariamente de exercer a sua actividade durante períodos de crise.
Segundo o vereador da Mobilidade, na capital há cerca de 3450 táxis, número "claramente" superior às necessidades mas que está abaixo do tecto dos 3500 veículos definido há duas décadas pela autarquia. Nunes da Silva lembra que esse contingente foi fixado quando a cidade tinha milhares de habitantes a mais do que hoje, acrescentando que o excesso de táxis é agravado pela actual crise económica.
O vereador garante que o município "está a a dialogar" com os representantes do sector para listar as soluções possíveis para o problema e chegar a uma proposta concreta de discussão. Entre as hipóteses equacionadas por Nunes da Silva estão cada táxi parar um dia por semana, alguns dias circularem aqueles que têm matrícula par e outros os que têm matrícula ímpar ou ainda uma parte das viaturas só poder transitar durante o dia e outra à noite.
"Há centenas largas de táxis a mais em Lisboa", concorda o presidente da Federação Portuguesa do Táxi, sublinhando que o contingente de 3500 veículos foi definido na década de 90 e devia ser reavaliado a cada dois anos, o que segundo diz nunca aconteceu. Carlos Ramos atribui parte desse excesso à saída de habitantes e de empresas para os concelhos limítrofes mas também aponta responsabilidades à Câmara de Lisboa, nomeadamente por ter decidido atribuir 50 novas licenças a táxis adaptados para o transporte de pessoas com mobilidade reduzida.
"Não há mercado suficiente de cadeiras de rodas que alimente financeiramente esses 50 carros, que vão acabar por ir buscar dinheiro aos clientes dos táxis tradicionais", acusa o presidente da federação, entidade que mantém com a autarquia um diferendo em tribunal sobre esta matéria.
Excesso também no Porto
Para resolver o desfasamento entre a oferta e a procura na capital, Carlos Ramos apresenta várias propostas, que sublinha serem utilizadas em cidades como Barcelona e Madrid. Uma delas é os taxistas deixarem temporariamente de exercer a sua actividade durante períodos de tempo pré-definidos, que a autarquia classifique como de crise. "É uma forma de o sector se auto-regular e evita que os especuladores andem a comprar licenças por dez tostões aproveitando-se das dificuldades dos outros", diz o dirigente. Outra ideia é que os empresários interessados em vender as suas licenças passem a fazê-lo, pelo valor de mercado, a um fundo criado para o efeito. Carlos Ramos explica que consoante a procura de táxis em Lisboa num determinado momento esse fundo poderia acumular as licenças compradas ou vendê-las.
O presidente da Federação Portuguesa do Táxi está de acordo com a hipótese de cada táxi parar um dia útil por semana. "Permite rentabilizar a actividade dos que ficam a trabalhar. Não podemos continuar a viver como se estivéssemos todos ricos", diz Carlos Ramos, defendendo que também ao sábado e ao domingo os veículos deviam circular alternadamente, consoante a matrícula.
Esta ideia também é bem vista por Carlos Lima, vice-presidente da federação no Porto. "Há 699 táxis na cidade e 500 chegavam bem", diz, salientando que nos últimos meses se assistiu a "uma quebra de facturação de 40 a 50%".
Diferente é a posição do presidente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), que não concorda com a paragem de um dia por semana. "Não há no país nenhum comércio ou indústria que seja obrigado a parar. Por que é que nós havemos de ser?", questiona Florêncio Almeida, acrescentando que seria impossível alterar os horários de trabalho dos motoristas sem a sua concordância.
Ainda assim, o presidente da ANTRAL afirma que há pelo menos mil táxis a mais na cidade de Lisboa e diz que a solução para isso tem de ser encontrada pelos empresários do sector, "não pela câmara ou pelo Governo". Uma das hipóteses admitidas por Florêncio Almeida seria a de alguns veículos só circularem durante o dia e outros durante a noite. "Com isso muita gente vai para o desemprego, mas é necessário", diz.
Este dirigente também não concorda com a decisão da Câmara de Lisboa de alargar a Zona de Emissões Reduzidas da cidade, proibindo na Avenida da Liberdade e na Baixa a circulação de viaturas anteriores a 1996, e ameaça com uma providência cautelar. "Criem corredores para os transportes públicos e portagens à entrada da cidade, que assim diminuem mais o CO2", alvitra Florêncio Almeida.
Nunes da Silva sublinha que os empresários do sector tiveram vários anos para se adaptar. O presidente da Federação Portuguesa do Táxi concorda e garante que a maioria dos veículos está preparada. Mas Carlos Ramos acrescenta que a autarquia devia ter feito a sua parte e deixado de licenciar os táxis anteriores a 1996 ou esclarecido que estes teriam restrições à circulação.
Sem comentários:
Enviar um comentário