O táxi como negócio - Taxista Empreendedor
domingo, 28 de fevereiro de 2010
O etarra que queria ser taxista
Associação de Táxis de Belfast Ocidental propõe circuito político de hora e meia, na capital da Irlanda do Norte, por 50 euros. Com visitas ao cemitério de Milltown, palco de massacres cometidos por unionistas britânicos. Membro da ETA agora em Belfast pretendia ser um dos condutores.
A coisa que Iñaki de Juana Chaos mais queria era que os espanhóis esquecessem a sua existência. Mas desde que deixou a prisão, há quase dois anos, os media e as vítimas do terrorismo etarra seguem tudo o que faz, à espera de um passo em falso que o mande de volta para trás das grades - de onde só saiu graças às suas greves de fome e a uma incompatibilidade entre códigos penais. A viver actualmente com a mulher na Irlanda do Norte, em Belfast, o ex-líder do comando da ETA em Madrid nos anos 80 luta agora contra o pedido de extradição feito pelo juiz espanhol Eloy Velasco, por enaltecimento do terrorismo, numa carta em que classificou como grande homem e amigo o ex-líder terrorista Domingo Iturbe Abásolo "Txomin".
Naquela província autónoma britânica, onde outrora estavam em guerra grupos republicanos e unionistas, tentou recentemente arranjar trabalho como taxista. Sem sucesso. Mais uma vez as vítimas estavam atentas.
"Temos trabalhado muito com as associações de vítimas do terrorismo espanholas, que alertaram para a presença deste indivíduo aqui na Irlanda do Norte. Ele tem sido ajudado por terroristas, tem casa paga pelo Sinn Féin, tem um subsídio, de 300 euros, do Governo, mesmo sem trabalhar. Ao tentar o emprego de taxista, omitiu o seu passado criminoso, alegando querer integrar-se. Nós achamos que este é só um argumento para contrariar a extradição e, por isso, alertámos. Não queremos que a Irlanda do Norte seja um porto seguro para todos os terroristas", declarou ao DN William Frazer, da FAIR, a maior associação de vítimas do terrorismo do IRA. O facto de ter omitido que estivera preso em Espanha pela morte de 25 pessoas e de ainda não terem passado pelo menos três anos desde que foi libertado da cadeia levou o tribunal a negar a Juana Chaos a licença para conduzir um dos Black Taxi, táxis pretos, da Associação de Táxis de Belfast Ocidental. Os argumentos da defesa, de que ele escondeu o passado porque quer muito começar de novo, que não pode regressar a território espanhol por temer a tortura nas suas prisões, foram rejeitados.
"Não estou a ver como é que ele, sem falar inglês, iria conduzir em Belfast. O facto de esta associação estar disposta a empregá-lo faz-nos temer que continue envolvida com republicanos", acrescentou Frazer, que perdeu o pai, dois tios e vários amigos em atentados do IRA - o Exército Republicano Irlandês que lutava pela reunificação da ilha da Irlanda. "Nos anos em que houve violência, os chamados troubles, havia áreas residenciais onde ninguém podia entrar. Foram criadas pelos terroristas, para que as pessoas tivessem medo, para que ninguém falasse com a polícia. E um dos resultados disso é que os motoristas de transportes normais não podiam entrar nessas áreas. Foi então que criaram essas empresas de Black Taxi, que davam uma parte dos rendimentos ao IRA, mas também chegaram a estar envolvidas em ataques." Em 1991, estavam ainda muito longe os acordos de paz de Sexta-Feira Santa (de 1998), o taxista Noel Thompson recolheu no aeroporto um soldado londrino e levou-o até à casa da noiva numa rua do Leste de Belfast. Ao deixá-lo ali, chegou o grupo de terroristas republicanos que ele avisara com antecedência e deu-lhe cinco tiros, perante o olhar de espanto e pânico da namorada.
Hoje em dia, sublinha o líder da FAIR, muitos dos condutores destes táxis são ex-membros do IRA.
Na Associação de Táxis de Belfast Ocidental, 15, pelo menos, são. A empresa oferece uma rota política de hora e meia, por 50 euros, com visitas ao cemitério de Milltown, palco de massacres unionistas, pelos murais mais truculentos da localidade, conta Eduardo Suárez, numa reportagem publicada no fim-de-semana passado no suplemento 'Crónica', do El Mundo. "Nos anos de chumbo o dinheiro ia para o IRA. Não está claro o que aconteceu com a chegada da paz. A versão oficial é que se dedica a actividades de beneficiência. A oficiosa é que é uma das vias de financiamento ilegais do Sinn Féin", escreveu, referindo-se à ala política do IRA, partido actualmente no poder. Gerry Adams, o seu líder, é o vice-presidente do Governo da Irlanda do Norte, partilhado com os unionistas - os que defendiam a permanência do território no Reino Unido.
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