O táxi como negócio - Taxista Empreendedor

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Os Táxis de Lisboa

A companhia Carris, operadora de transporte rodoviário de passageiros da cidade de Lisboa, foi considerada, há pouco tempo, como uma das dez empresas de referência, a nível mundial, no seu sector de actividade. Há uns anos, debrucei-me sobre o balanço e a conta de exploração desta empresa, peças contabilísticas publicadas, e fiquei preocupado quer pelos prejuízos quer pelas subvenções financeiras recebidas da autarquia de Lisboa e do Estado.

Eternamente deficitária, financeiramente, na sua exploração, como todas as restantes empresas de transportes públicos de passageiros em Portugal, os objectivos destas empresas visam prestar um serviço público de qualidade, mas com o menor custo possível, mas é esse o “preço” a pagar por este tipo de transportes, pois as receitas cobradas dos utentes não cobrem os custos das empresas, pelo que os seus défices são cobertos pelos nossos impostos.

Desde há muitos anos, que não sou utilizador frequente da Carris (porque trabalho fora da cidade e, como tal, numa área não servida pela operadora) mas a qualidade do serviço prestado “vê-se à vista desarmada”, isto é, basta observar a qualidade da sua frota de autocarros (os eléctricos são poucos), pelo que não me surpreende aquela classificação internacional atribuída à empresa lisboeta. Assim, a cidade de Lisboa tem uma excelente rede de transportes públicos – Carris e Metro, este em expansão, quer dentro quer para fora da cidade, e de excelente qualidade. Nunca mais analisei aqueles elementos económicos e contabilísticos citados, mas acredito que o défice de exploração continue alto, por força das condicionantes atrás citadas, pelo que é óbvio que se coloque a questão de quem deve pagar este “défice”, mas esse não é o objectivo desta crónica, pelo que fica para outra altura e até é comum a outras cidades do país.

Mas no que diz respeito aos táxis de Lisboa, a questão já muda de figura e a média da qualidade da frota dos veículos que aqui circulam fica muito aquém daqueles dois outros operadores. Diria que nos táxis se vai do “oito aos oitenta”, isto é, tanto circulam táxis modernos, fiáveis e de qualidade, como outros que já deveriam estar num qualquer “monte de sucata”, tal é a má qualidade ou a degradação de algumas viaturas. Para além de velhos, muitos desses veículos são sujos no seu interior e o habitáculo dos passageiros é de deficiente qualidade. Acredito que estas viaturas “passem nas revisões” respectivas (este o único requisito de “qualidade” exigida pela lei, pois o limite de doze anos para as viaturas foi revogado, pelo que circulam viaturas com vinte anos ou mais), mas confesso que também a segurança não parece assegurada ou, pelo menos não inspiram confiança aos passageiros (clientes).

Se quiséssemos atribuir “estrelas” aos táxis, como se classificam os hotéis e restaurantes, alguns deles nem uma estrela mereceriam e, noutro extremo, existem viaturas de “cinco estrelas”, tal é a sua elevada qualidade (algumas de alto “status” ou duma certa ostentação dos seus proprietários - esta prática mais visível em cidades e vilas da província), pois há “industriais de táxis” que têm gosto e até uma certa vaidade/ostentação nos seus veículos, pelo que terão razões de queixa da concorrência dos seus colegas que utilizam viaturas de baixa qualidade, porque, os custos de exploração são mais altos naqueles do que nos parceiros que exercem a actividade com viaturas que já nem deveriam circular e cujo custo de amortização é zero.

Sendo o preço da bandeirada e do quilómetro igual para todos os “táxis normais” (a excepção aplica-se às viaturas da classe A, T e para veículos com 7/9 passageiros), sejam velhos ou novos, grandes ou pequenos, bons ou maus, então o lucro será tanto maior quanto mais baixo for o valor económico-contabilístico de cada viatura, porque o custo da “amortização” desta é uma componente dos custos da actividade, como outros, pelo que não se compreende que os dois valores citados e cobrados aos clientes sejam independentes da qualidade do serviço prestado, isto é, da qualidade da viatura (embora a qualidade do serviço prestado seja composto por outras variantes – educação e formação do condutor, etc). A final, os preços nos hotéis e restaurantes não diferem do “estrelado” e não pode o cliente proceder á sua escolha consoante esses requisitos? Pois nos táxis essa escolha está vedada, na maioria das situações, porque o cliente é obrigado a respeitar a ordem do táxi que lhe “calhou em sorte”, por exemplo nas chegadas aos aeroportos, praças de táxis, etc. Faz sentido isto? Claro que não e esta desigualdade na qualidade do produto/serviço de transporte de táxi acaba por favorecer, economicamente, a “má ou baixa qualidade”, sendo, por isso, uma forma de concorrência desleal e no qual o “consumidor” tem que “comer e calar”. Há pouco tempo, tive que me deslocar a Madrid e, por isso, chamei um táxi (via telefone) para me levar ao aeroporto tendo me “calhado em sorte” uma viatura de muito má qualidade e que, obviamente, eu não poderia recusar. Chegado ao aeroporto da capital espanhola “sofri um choque” com aquilo que vi na frota dos táxis, extensível aos arredores da cidade, isto é, grande qualidade de todas as viaturas e que tinham aspecto de novas, com o seu habitáculo impecável onde dava gosto ser transportado. Para além disso todas exibiam no” tabelier” a carta profissional do condutor e da empresa proprietária da viatura, situação semelhante à de outros países europeus e que não se verifica no nosso, com raras excepções.

Imagine-se o que sentirá um turista que chega ao aeroporto de Lisboa e lhe calha, na fila dos táxis ali formada, uma dessas “carroças velhas de museu” (sem ofensas), algumas com mais de vinte anos ou uma viatura onde os passageiros e as bagagens quase que não cabem! Ali sofre o primeiro impacte negativo duma cidade e de um país que aposta no turismo e dele precisa como importante sector da nossa economia. Apesar dos autocarros e do metro de Lisboa ser de excelente qualidade e eficiência, já a qualidade média do sector dos táxis não acompanha a qualidade do equipamento e do serviço daquelas companhias.

Em síntese e, das duas uma, ou todos os táxis deveriam ter uma qualidade e um modelo padrão mínimo (o que me parece ser o exemplo de Madrid, atrás citado) ou, no mínimo, os valores a cobrar (bandeirada e preço por quilómetro) deveria ser diferente e estar de acordo com a qualidade e os custos do serviço prestados. Se é assim noutros sectores, como a citada hotelaria, por que não nos táxis de Lisboa? Há coisas que não entendo sobre a “negligências ou esquecimento” das autoridades reguladoras/fiscalizadoras neste sector de grande importância na vida das pessoas, principalmente para os seus visitantes mas não só e que complementa os outros operadores nos transportes públicos.
 Fonte:RSul

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