Taxistas pagam propina para não serem multados, diz polícia.
Durante o dia, 26 táxis foram rebocados em fiscalização da prefeitura.
As áreas escolhidas pela fiscalização são as mesmas onde uma reportagem do Fantástico flagrou esquemas de corrupção. No Aeroporto Santos Dumont, o guarda municipal recebia propina para não multar taxistas.
Depois das denúncias de corrupção envolvendo taxistas e guardas municipais, a Prefeitura do Rio fez, nesta terça-feira, operações para combater irregularidades nos táxis.
De madrugada, uma série de ilegalidades: carros parados no meio da rua e cooperativas que exploram pontos que não existem. Durante o dia, mais irregularidades que, muitas vezes, nem são vistas pelos passageiros.
Nesta terça-feira, logo cedo, uma equipe da Secretaria de Transportes do Rio foi para as ruas e durante algumas horas fiscalizou as principais portas de entrada de turistas na cidade: a rodoviária e os aeroportos. Documentação irregular foi o problema mais encontrado e muitos táxis acabaram lacrados.
Uma placa tinha o número oito, mas numa rápida olhada parecia um seis. À primeira vista outro carro não apresentava qualquer problema, mas era um táxi pirata. Segundo os fiscais, o selo de vistoria é falsificado. O motorista foi levado para a delegacia e vai responder por exercício ilegal da profissão.
As áreas escolhidas pela fiscalização são as mesmas onde uma reportagem do Fantástico flagrou esquemas de corrupção. No Aeroporto Santos Dumont, o guarda municipal recebia propina para não multar taxistas.
Quatro guardas municipais já foram afastados. Quem anda na linha apoia a fiscalização para tirar os maus profissionais das ruas. “Tinha que ter todo dia, todo dia. Que aí todo mundo andava direitinho”.
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Repórter vira taxista e descobre mundo à margem da lei
Repórter vira taxista, e descobre um mundo à margem da lei.
“Aqui não é bem um ponto, aqui, é um negócio ilegal”, diz uma mulher.
Táxis piratas. “Eu trabalho com pirata mesmo, carro particular”, diz nosso repórter.
Guardas corruptos, que aliviam multas - é só dar propina!
Repórter-taxista - Multa eu não vou ter não?
Guarda - Não, não, fica tranquilo.
O mercado negro dos alvarás e a disputa feroz por passageiros.
“Aqui não é escritório não, aqui é lei de cão, nego mata , dá paulada, dá patada, não vê o que fizeram no Galeão com o rapaz lá?”, afirma um senhor taxista.
Veja esta oferta: o que ela tem de estranho, além do valor alto? “Venda de taxi: Astra 2006, R$ 170 mil”.
“Se eles liberassem a venda, caía o preço”, afirma um senhor.
Na maior cidade do Brasil, existem 32 mil alvarás para táxi. São licenças que a prefeitura paulista deu há muito tempo.
Mas, como não são liberadas novas licenças, um mercado negro cresce à margem da lei.
Um homem, que se apresenta como Airton, oferece um táxi com alvará. Ele só seria o intermediário do negócio com o verdadeiro dono da licença. De cara, pede uma entrada.
“Se fechar você me dá primeiro os cinco (R$ 5 mil) e quando sair a certidão você completa a metade.
Fantástico - R$ 30?
Vendedor - Isso
Fantástico - E ai?
Vendedor - ai R$ 5 mais R$ 30 e R$ 40 na assinatura.
Só que vender alvará é proibido.
“Ele não pode ser comercializado, ele não tem valor venal”, explica o diretor do departamento de Transportes Públicos de São Paulo, Eliziário Barbosa.
Valor venal significa valor comercial. Até é possível passar o alvará para outra pessoa, mas a transferência precisa ser gratuita. Para não ser pego, outro intermediário desse tipo de negócio dá a dica.
Fantástico - O proprietário tem que fazer pra mim uma doação?
Homem - Lá ninguém pode falar em dinheiro. Se falar em dinheiro lá, os dois perdem.
Fantástico - Não pode falar em dinheiro?
Homem - Lá simplesmente ele está saindo e você está entrando.
Homem - Se cheirar que você está comprando, você perde seu cadastro, perde tudo e ele também.
Fantástico – Porque é proibido?
Homem - Seria até proibido. Mas nunca teve isso. Aqui é tudo contrato, você vai ter recibo do que você está pagando, esse recibo só não pode ir pra lá, é recibo seu do dinheiro que você deu de entrada.
“Se o departamento de transporte público de São Paulo constatar que alguma irregularidade dessas, existem as penalidades, que vão de multa até a cassação do alvará ou daquela autorização pra conduzir taxi”, afirma o diretor do departamento de Transportes Públicos de São Paulo, Eliziário Barbosa.
Cada cidade define quem pode ser taxista e quais as regras para trabalhar com os passageiros.
“Quem é taxista sabe que não tem como andar ilegal em São Paulo”, afirma o taxista Marcos Viana.
Em São Paulo, a prefeitura exige que o motorista tenha carteira profissional e um curso especial para obter uma licença para dirigir táxi.
No Rio de Janeiro, não é preciso nada disso. Só a carteira de habilitação.
O repórter Francisco Regueira levou apenas um mês para virar taxista.
Com o documento na mão, o passo seguinte foi alugar um táxi que tem alvará.
Câmeras foram instaladas dentro do táxi e um microfone esteve ligado o tempo todo no repórter. Uma equipe passou a acompanhar, de um outro carro, a rotina do novo taxista. Hora de cair na pista.
Rio de Janeiro - sede da final da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Só no Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, circulam 490 mil pessoas. Um prato cheio para a bandalha.
No Rio de Janeiro, qualquer taxista pode pegar passageiro em ponto de táxi.
Um guarda confirma para o nosso repórter que ele pode trabalhar ali no aeroporto, só que não demora muito e vemos um taxista ser expulso da fila.Em seguida, tentam tirar nosso táxi dali.
Homem - Meu mano, aqui não pode parar não, irmão.
Repórter - O guardinha falou que podia parar aqui.
Homem - Aqui não, ele falou pra tu? Aquele que tá ali?
Repórter – É.
O homem sai atrás do guarda, reclama com o guarda apontando pro carro do repórter do Fantástico. O homem que toma conta da fila vai tirar satisfações com o guarda. E volta cheio de razão.
Por medida de segurança nossas equipes foram embora.
Qual seria a primeira impressão de alguém que chega ao Brasil e presencia esta cena?
As imagens foram gravadas em julho deste ano. Um taxista deixou um passageiro e tentava pegar outro no desembarque - que é uma área pública e de livre acesso.
Outros taxistas que trabalham no terminal perseguiram e espancaram o motorista porque ele havia invadido o ponto dominado por eles.
“Veio um cooperado do Galeão e falou pra mim que eu não podia pegar passageiro ali. Eu perguntei pra ele: 'por que eu não posso pegar se meu carro é táxi? É amarelo igual ao deles'. No que eu olhei pra trás veio aquela turma correndo atrás de mim. Só lembro quando eu acordei no hospital”, relembra o taxista espancado.
“Agora eu estou meio com pânico mesmo. Estou com pânico do Rio de Janeiro. Só estou aqui ainda por causa da minha família, senão tinha ido embora”, conta ele.
Estamos de volta ao Aeroporto do Galeão.
Rapidamente, começam os avisos para nosso carro sair da fila - um sinal de luz.
E depois um buzinaço.
O guarda assiste a confusão de longe.
“Deixa eu explicar uma coisa, que você é novo na praça, eu vou explicar senão tu vai arrumar confusão no Rio de Janeiro inteiro”, diz um homem.
Fomos checar os outros pontos de taxi da cidade.
No maior shopping da Zona Sul, área nobre do Rio de Janeiro, o ponto de táxi também foi loteado. Apesar de ser uma área pública.
Homem - Se liga, aqui é um ponto. São dois taxistas aqui do ponto. Você pode até aguardar aqui na frente, quando não tem taxi, eu deixo passar você.
Repórter - mas é que eu estou querendo entrar no esquema do ponto.
Homem - Tem uma vaga vendendo, cara. Só sei que a vaga pra vender está R$ 15 mil.
Só pelo direito de pegar passageiros ali sem ser incomodado pelos outros colegas.
Mais uma semana de trabalho começa e o nosso repórter agora vai para a rodoviária do Rio de Janeiro - outro ponto dominado pela máfia dos taxistas.
Logo na chegada, uma ameaça.
Repórter - Como é que faço pra entrar no ponto hein?
Homem - Aqui é fechado, já tem carro demais e daqui a pouquinho vão furar teus pneus. O ponto aqui é do policia.
Depois da revelação, o clima fica pesado.
Homem - Aqui não é escritório não, aqui é lei de cão, nego mata , dá paulada, dá patada, não vê o que fizeram no galeão com o rapaz lá? Enfiaram a porrada.
Voltamos em outro dia. Agora eles explicam que a rodoviária não tem um ponto legalizado e é preciso pagar a polícia para não levar multa.
Homem - Se tiver disposição pra pagar R$30 reais pro polícia todo dia...
Repórter - Tem que fazer acerto com polícia, é?
Homem - Se ele virem aqui vao te entupir de multa aí, só vê as multas chegando em casa. A gente paga e ele ainda multam a gente.
Homem - A gente aqui, é tudo bandido, amigo, aqui só tem bandido.
Em tom de camaradagem, Maxuel, que está de camisa amarela, faz uma proposta...
Homem de Amarelo - Quer comprar uma vaga aí? Eu vendo uma vaga pra tu.
Chico - por quanto?
Homem de Amarelo - R$ 25 mil. Boto você para trabalhar aqui.
Perguntamos se o dinheiro é para pagar propina para a polícia. Ele diz que não. Alega que é para pagar a própria proteção.
Homem - Então voce que fazer isso, fala que carro está comigo e ninguém mexe não. Eu meto a porrada nele se eles mexerem, eu sei quem é ruim e quem é bom, mas você não sabe quem é ninguém. Aí tem que trabalhar comigo um tempo para vagabundo se acostumar. Aqui dá dinheiro, mas tem que saber ser malandro para fazer dinheiro.
Na rodoviária, circulam 50 mil passageiros todos os dias. Gente que pode cair nas mãos de Maxuel, que sequer tem um carro legalizado.
O táxi dele é pirata, não tem licença da prefeitura, não tem luminoso nem a faixa lateral, como exige a lei carioca, e a placa é de cor cinza ao invés de vermelha.
O passageiro - que está usando um microfone - é orientado a entrar no carro de Maxuel. Assim que diz o destino, ouve o preço fechado - o que é ilegal.
Na chegada, ele arredonda para cima o preço e até dá recibo.
Maxuel- Tem bagagem lá?
Passageiro - Não. Quanto é que deu aí?
Maxuel – R$ 60. Certinho fiel. Vai precisar de algum recibo?
Passageiro - queria um recibinho. Só para justificar, ver se eu recebo.
Maxuel - Aqui é de cooperativa com CNPJ.
Passageiro - Essa tabela é do Rio mesmo?
Maxuel - É da cooperativa.
E não para por aí. Além do preço fechado e do táxi ilegal, ele se dispõe a levar o passageiro a uma casa de prostituição.
Maxuel - Qualquer coisa, o que você quiser eu arrumo pra você no Rio.
A ação da máfia dos taxistas não se restringe às áreas turísticas da cidade.
Na Avenida Rio Branco, no centro financeiro e empresarial do Rio de Janeiro, os pontos clandestinos funcionam de maneira organizada.
Uma mulher identificada como Andrea usa um colete escrito "taxi".
Repórter Fantástico - Você tem vaga aqui? Como é que tá?
Andrea - Como é que está o que?
Repórter Fantástico – Porque eu quero trabalhar aqui.
Andrea - É R$ 20 por semana.
Durante a conversa, Andrea recolhe dinheiro de um taxista e depois de outro.
Em seguida, ela revela que o esquema envolve policiais. O dinheiro que ela recolhe é repassado para evitar as multas.
Repórter Fantástico – Se por acaso algum deles encostar e me pedir dinheiro, o que eu faço?
Andrea - Não, já to pagando ao Guarda Mariano.
Repórter Fantástico – Guarda Mariano. Guarda Mariano é o que fica aqui?
Andrea - é o que vai vim aqui pra pegar dinheiro.
Repórter Fantástico – Se o guarda mariano chegar e me pedir dinheiro, eu não dou?
Andrea - Não, dá na minha mão que eu dou para ele. Não dá o dinheiro na mão de ninguém.
Não localizamos o guarda Mariano, citado pela mulher.
Perto dali, outro ponto clandestino. Aqui o negócio é mais sofisticado.
Mulher - Aqui não é bem um ponto, aqui, é um negócio ilegal.
Repórter- Não pode parar? Mas esse ilegal dá multa?
Mulher - Não dá multa não porque os guardas já conhecem todas as pessoas que é assim, meus carros tem aquele simbolinho ali.
Mulher - Eu conheço por isso. Quando os guardas vêm, já conhecem os carros por causa disso, aí pode ficar. Entendeu?
Repórter Fantástico – Só botar o adesivinho?
Mulher - Isso.
Repórter Fantástico – Aí todo mundo que tem essa interrogação, o guarda já sabe e não multa?
Mulher - já sabe e não multa.
Todos esses carros com o adesivo da interrogação supostamente estão livres da multa porque pagam propina.
Este homem identificado como Seu Chagas explica que pra participar, é preciso pagar uma espécie de garantia, antes mesmo da contribuição semanal de R$ 20.
Seu Chagas - Eu tenho vaga, só que aqui tem que pagar uma caução de R$ 50, certo? E pagar o selo que custa R$ 5.
Chagas é quem entrega o adesivo. “Você limpa o para brisas do carro, senão ele salta”.
Seu Chagas - Coloca o selo e pronto, ninguém vai mandar você sair.
Repórter do Fantástico - Esses R$ 50 eu pago pro senhor? Agora ou quando for sair?
Chagas - Agora.
Mas essa reportagem ainda tem mais um capítulo.
Aeroporto Santos Dumont - com um movimento anual de cinco milhões de passageiros - é o principal ponto de chegada para quem faz a ponte aérea Rio-São Paulo.
Um taxista que trabalha neste terminal conta que aqui a polícia cobra para não multar. Em três dias de trabalho, conseguimos confirmar o esquema.
Ele é bem parecido ao usado na Avenida Rio Branco: pagar toda a semana para não levar multa. Como os guardas se revezam, dia sim, dia não, o motorista precisa pagar duas vezes por semana. O guarda pede para que o dinheiro seja colocar no chão e pega na sequencia e esconde dentro da meia.
“Isso é uma transgressão gravíssima, é preciso que tenhamos elementos comprobatórios dessa conduta, a filmagem completa, o depoimento dessa pessoa, que essa pessoa se identifique pra que a gente possa montar processo completo e possa realmente ter elementos pra poder acusar aquele guarda municipal, que aparece naquelas imagens, se é o caso”, observa Eduardo Frederico Cabral, subsecretario de Transportes do Rio de Janeiro.
O subsecretário também falou sobre a fiscalização nos pontos de táxi.
“Não existe ponto privativo de cooperativa a, b ou c, ou qualquer pessoa que se nomeie dono de determinado ponto. O que acontece hoje em dia é que vem acontecendo isso, nós fiscalização estamos indo a vários pontos, só que são dezenas de pontos na cidade, nós fiscalizamos pontos, fomos nesse ponto do Aeroporto Internacional, fomos em pontos da Zona Sul, só que quando a fiscalização está lá, essa privatização não ocorre, basta a fiscalização se ausentar, e volta a ocorrer”, explica o subsecretário.
E quando quem devia fiscalizar não age? Foi o caso do guarda no Aeroporto Internacional Tom Jobim.
“Ele é a presença do estado ali, se a força dele ali é insuficiente, ele deve pedir apoio, se ele não estiver pedindo apoio, vai ter sua conduta avaliada. Ele vai ter sua conduta avaliada pelo seu superior. A omissão também é passível de punição”, afirma o subsecretário.
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